quinta-feira, 23 de julho de 2015

#SpotlightDaSemana: Alice Caymmi!




Quinta-feira, dia de Spotlight da semana! E também dia de lembrar que o Brasil é cheio de talentos e muitos deles acabam sendo desvalorizados tanto pela mídia como por nós mesmos, meros ouvintes. E é por isso que a artista de hoje é toda trabalhada no verde e amarelo, e como ela mesma já citou, “[...] eu sou mestiça à beça”. Pois é, mestiça pacas. A cegonha que trouxe Alice Caymmi ao mundo provavelmente recebeu a bênção de algum deus por aí, pois a moça é nada mais nada menos que neta do lendário Dorival Caymmi, sobrinha de Nana e Dori Caymmi e, claro, filha de Danilo e Simone Caymmi. Ufa! Quanta “gente grande”! Como já deu para notar, dois temas são recorrentes na vida de Alice: A música e o sobrenome da sua família.

Ah, mas não se engane, ela está longe de ser uma artista previsível que fique presa ao já citado sobrenome da sua família ou a algum estilo musical premeditado. Ela canta o que quer, o que sente, o que tem vontade. Pode fazer desde um cover de Bjork a uma regravação de alguma canção do seu finado avô, Dorival Caymmi. Ela é única, carregada de referências religiosas, culturais, musicais e só para abrir uns parênteses aqui: (carregada de talento e beleza também).


Um dos requisitos para um artista me conquistar com certeza é a voz. E a da Alice me atingiu como um soco na cara porque vendo sua idade (25 aninhos de pura musicalidade) não há quem espere uma voz tão madura e potente. Além disso, eu fico simplesmente encantado em como ela consegue trazer certa obscuridade e súplica em algumas de suas músicas... Oops, cenas para os próximos capítulos. Desculpem-me, acabei me empolgando demais.

PS. Antes de irmos para o lado musical da coisa, Alice é uma garota muito urban conceitual, sabiam? Pois é, se você jogar "Alice Caymmi" no Google Imagens, verá que seis em cada dez fotos, ela está esbanjando poses cubistas com uma pitada surrealista. Veja por si só.

Alice lançou seu primeiro álbum em 2012, intitulado "Alice Caymmi" e é nele que estão os covers citados acima - "Unravel" da Bjork e "Sargaço Mar" de Dorival Caymmi.



O primeiro é cheio de emoção, ela incorporou a música e a deu outro tom - obscuro e atormentado - diferente da versão original um tanto "suave" que a voz da Bjork traz. Já o segundo não é diferente, Alice trouxe uma roupagem intensa e ainda mais obscura na canção original do seu avô.

Opinião da própria Bjork sobre esse cover. Eu não preciso falar mais nada, certo?

As canções do álbum "Alice Caymmi" são todas num tom "aquático", segundo ela, suas composições e as próprias músicas em si foram inspiradas no seu avô, mas repaginadas com um tom obscuro, trágico e dark. Emo, gótica, vampira e roqueira, eu já tinha amado esse álbum antes de ouvi-lo só por essa declaração <3

Ainda nessa vibe marinha (rs), temos "Água Marinha", mais trabalhada que as antecessoras, essa canção tem um instrumental até "feliz" ao fundo, mas que entra em confronto com abstratividade da letra. Versos simples e subjetivos numa música curtinha com um instrumental forte ao fundo. Isso casou muito bem.


 A mais provável de te agradar talvez seja "Arco Da Aliança", o instrumental num mix de sanfona, violão, bateria (acho) e um coral distante no refrão soa delicioso aos ouvidos. A letra continua naquela vibe subjetiva, perfeita para fechar os olhos e ouvir num dia de chuva ou numa viagem.


A minha preferida desse álbum se chama "Mater Continua", a letra é belíssima, pelo menos da forma que eu interpretei ela fala sobre o quanto está sofrendo com algum tipo de relacionamento:

 Nada nesse mundo vai poder dizer
O quanto me dói não compreender
Todas as palavras que você me diz
Que me distanciam de você

Eu achei belíssima, pena que essa música tem apenas 2:10. Lembrando que todo o álbum, salvo os covers, são composições da própria Alice.

Outra queridinha desse álbum é a simpática "Tudo o que for leve", que veio para quebrar a obscuridade do álbum. A batida dela é contagiante e feliz, uma delícia de ouvir. A letra é outra delícia (rs), cantando sobre como quer levar com ela apenas as coisas boas da vida, vemos o lado "queria estar viva" da artista, lado esse que quase sumiu no meio de tanta escuridão, goticidade e vampirismo. Risos. Amo muito essa música.


E em Setembro do ano passado, ela nos presenteou com outro álbum. "Rainha dos Raios" marca uma evolução/mudança na carreira da artista, pois enquanto seu primeiro álbum foi quase que todo autoral e seguindo uma mesma "lógica" nas músicas - a pegada do mar dark dita acima - esse aqui apresenta maior versatilidade e contém apenas duas músicas autorais.

A que mais me chamou atenção foi "Homem", composição de Caetano Veloso, ela traz uma letra magnífica caracterizando o homem e exaltando a mulher de forma sútil. É como se algum homem por aí estivesse falando tudo o que a letra diz, é simplesmente genial! E não menos genial foi o instrumental usado nessa faixa, é uma mistura de sintetizadores, um coro, e fragmentos de uma mulher gemendo (!). 

Sim, partes da música são uma mulher tendo um orgasmo e gemendo mesmo!

À primeira ouvida você fica tipo "oi?", mas depois acha simplesmente o máximo pois casa com partes da letra. Palmas, palmas e palmas. Alice, a senhora é ousada mesmo, viu?


"Iansã" é outro destaque do álbum, a letra fala sobre exatamente o que está no título, a rainha dos mares. E não, você não precisa apreciar/conhecer a cultura africana para cair de amores nessa música.


"Como Vês" foi o single do álbum, provavelmente a música mais longa dela (4:38), é uma faixa ótima, a letra é excelente, ainda muito obscura e pessimista sobre a vida e o amor - "Como vês o amor vai desbotar as cores nas fotos que ele tocar, vai levar no vento que soprar os dias, os meses e o que virá" POIS É! Não amem, galera!

PS. Eu tenho um péssimo ouvido para identificar instrumentos musicais e inclusive só conheço violão e piano (-n), mas eu também adoro muito o instrumental dessa música. É intenso e combina perfeitamente com o pessimismo presente na letra.


"Antes de Tudo" é uma que eu me apaixonei pelo instrumental desde o começo, me lembra muito uma animação de terror infantil tipo "O Estranho Mundo de Jack". Fazendo uma comparação com alguma estrangeira, "Carousel" da rainha Melanie Martinez seria assim se a Melanie fosse brasileira ahuahua. Ok, voltando para o planeta real, a música é realmente sombria, desde os vocais repuxados e suplicantes da Alice ao já dito instrumental quase que psicodélico.

 

Agora que vocês já estão apresentados a essa joia rara brasileira, podem segui-la em todas as redes sociais e ouvir loucamente seus dois álbuns. Obrigado.



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