O nosso Spotlight da semana passada apresentou a
rapper curitibana Karol Conka e seu estilo marcante e original. Geralmente, o
rap se divide em duas categorias, ou caminha para o lado crítico e politizado
ou vai para a direção das bundas grandes e ostentação, mas Karol não se encaixa
em nenhuma dessas duas, apesar de algumas letras conterem um teor crítico forte
às vezes, ela prefere cantar sobre as coisas da vida, sobre a periferia e os
eventos do mundo ao seu redor. “Batuk Freak”, seu disco de estreia, levou três
anos para ficar pronto e foi apresentado pelo hit “Boa Noite”, mas saiu em
2013, e, apesar de estarmos atrasados, aqui está a opinião do About Pop sobre o
disco!
Corre,
Corre Erê – Abrindo o álbum somos apresentados a seu terceiro single,
“Corre, Corre Erê”, cuja letra é bem característica da rapper curitibana,
girando em torno da felicidade e da liberdade. A canção demonstra bem o
fascínio de Karol pela cultura africana, seja nas referências à religião, como
no próprio nome, ou nos contagiantes batuques de afrobeat. Nota: 8.0/10
Gueto Ao
Luxo – Deixa que a nêga vai! A
batucada continua, mas agora mais animada, fazendo “Gueto Ao Luxo” soar como
uma incrível mistura de hip-hop e axé. Sobre uma batida energética, de longe um
dos melhores instrumentais do álbum, Karol rima sobre suas origens e diz que
nunca esqueceu o que já viveu, bebendo champanhe em uma cobertura, mas também
tomando sol na laje. Tudo nesta faixa é impecável, a letra, o refrão, o
instrumental, absolutamente tudo, tornando-a uma das melhores músicas do disco.
Nota: 10/10
Vô Lá –
Menos eletrônica e mais fluida que a anterior, “Vô Lá” é uma canção
extremamente gostosa de se ouvir, trazendo um instrumental hip-hop/trap com
samples de um repente alagoano (Um gênero musical que faz parte da tradição
folclórica nordestina), inclusive com uma – genial – parte dedicada à
“participação especial” lá no final e uma letra que fala sobre correr atrás
para conseguir o que quer. Toda a homenagem ao nordeste, o hip-hop delicioso no
instrumental e o estilo cheio de atitude com o qual Karol rima são tão
incríveis que é impossível não citar “Vô Lá” como um dos destaques do álbum. Nota: 9.5/10
Gandaia
– Desligando a mente um pouquinho, chegamos à “Gandaia”, uma música para ir pra
buatchy e se divertir a noite toda
sem ligar para mais nada. Como a proposta da canção já deixa claro, a letra não
é um destaque, mas é realmente impossível ficar parado com as flautas
contagiantes misturadas à batida acelerada desse hino das pistas. Hoje o meu nome é gandaia! Nota: 8.5/10
Você Não
Vai – Aqui Karol tem um hater que
a subestima, mas ela não está nem aí e mostra pra ele que é uma mulher forte e
não vai se permitir ser influenciada por uma pessoa tão inferior, que não pode
ir para os lugares onde ela vai (Não pode andar com ela no recreio). O ritmo é
tão gostoso quanto o de “Vô Lá” e o instrumental é construído com vários sons
excêntricos que funcionam muito bem. A
senhora tombou mesmo hein? Nota: 8.0/10
Bate A
Poeira – A sexta canção da tracklist traz o tema da religiosidade,
tolerância e igualdade, além de um refrão bem pop, mas, apesar da força do
tema, não consegue se destacar no meio das outras. Ainda assim tem uma bela
letra, deixando mais evidente o lado politizado das composições da rapper. Nota: 5.5/10
Sandália
– Um dos maiores pontos altos do disco se encontra logo após a maior decepção.
“Sandália” traz de volta os batuques africanos, mas agora misturados a um
instrumental de reggae e ragga e instrumentos de sopro. É uma das músicas mais
grandiosas do trabalho, com uma letra libertadora e alegre (“Deixa ela, deixa,
ser livre, seguir sem importar/Se quiser ir pra qualquer lugar que vá, não tem
asas mas pode voar”). A participação de Rincón Sapiência é bem vinda e só
contribui para tornar “Sandália” uma canção ainda mais extraordinária. Nota: 10/10
Mundo Loco
– Deixando o ragga de lado, “Mundo Loco” traz de volta o hip-hop, agora envolto
em uma aura de dubstep. Na oitava faixa do seu disco de estreia, Karol descreve
um lugar onírico onde o céu é roxo, a grama é azul, os pássaros cantam Erykah
Badu e as pessoas não são diferentes. Ouvindo essa canção, tudo o que queremos
fazer é se juntar à rapper para deitar e brisar. Hipnotizante. Nota: 9.0/10
Que Delícia
– Totalmente diferente de tudo o que já foi mostrado no disco, tanto em letra
como em sonoridade, “Que Delícia” é sensual e romântica e traz um instrumental
relaxante com batidas meio caribenhas, mas acaba quebrando o clima maravilhoso
imposto pelas outras canções, se juntando a “Bate A Poeira” na lista de faixas
que eu pularia. Nota: 5.0/10
Olhe-se
– Tchau batuques ou fortes influências regionais, “Olhe-se”, parceria com o
rapper Tuty, é um maravilhoso trap/hip-hop energético bem aos moldes do mercado
americano e poderia soar como o trabalho de Nicki Minaj (Até lembra levemente o
hino “I’m Legit”, com a Ciara) se não fosse pela letra. Isso não é nada ruim e
a única coisa no mínimo esquisita é que a música parece mais uma parceria de
Tuty com Karol Conka e não o contrário. Bem, isso não é problema quando o
rapper brasileiro é tão competente quanto ela, né? Nota: 9.0/10
Boa Noite
– A grande canção da carreira de Karol, responsável por dar reconhecimento ao
nome da curitibana, aparece no final do disco, sendo a última música original.
Com samples de “Boa Noite”, do duo Tropkillaz, Karol vem com uma música
energética, marcante e evidentemente brasileira, pois, assim como “Vô Lá”,
conta com a influência da música nordestina. Hino incontestável e um dos
destaques com certeza. Nota: 10/10
Caxambu
– A batucada de “Caxambu”, regravação do samba raiz de Almir Guineto, é
responsável por fechar o disco – com chave de ouro, diga-se de passagem. Karol
adapta a música ao seu estilo urbano, com batidas pesadas de hip-hop, batuques
e palmas (Sobra espaço até para uma introdução de funk carioca) e a transforma
em algo que poderia facilmente se passar como uma canção original sua. Nota: 8.0/10
Resumo
geral: Com seu álbum de estreia, Karol Conka se mostrou como uma forte
aposta para representar o rap feminino no Brasil, contendo também o fator pop
em suas músicas (O que acabou ficando evidente em “Tombei”, seu novo single) e
influências da cultura brasileira e africana. “Batuk Freak” é um dos discos
mais brasileiros de todos os tempos, soando como uma mistura cultural
deliciosa. Se algum gringo deseja conhecer a cultura musical do Brasil, é só
escutar este álbum, está quase tudo aqui. Não só os instrumentos e samples
mostram as várias faces do Brasil, mas também as letras, onde Karol fala sobre
ricos, pobres, negros ou brancos tratando todos como iguais e retrata essa
“mistura” de etnias e culturas que o Brasil possui.
Bate A Poeira não é a pior, a pior é Caxambu. Todas as músicas mereciam clipe e são perfeitas
ResponderExcluirBate A Poeira não é a pior, a pior é Caxambu. Todas as músicas mereciam clipe e são perfeitas
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