quarta-feira, 13 de maio de 2015

REVIEW: Karol Conka - Batuk Freak




O nosso Spotlight da semana passada apresentou a rapper curitibana Karol Conka e seu estilo marcante e original. Geralmente, o rap se divide em duas categorias, ou caminha para o lado crítico e politizado ou vai para a direção das bundas grandes e ostentação, mas Karol não se encaixa em nenhuma dessas duas, apesar de algumas letras conterem um teor crítico forte às vezes, ela prefere cantar sobre as coisas da vida, sobre a periferia e os eventos do mundo ao seu redor. “Batuk Freak”, seu disco de estreia, levou três anos para ficar pronto e foi apresentado pelo hit “Boa Noite”, mas saiu em 2013, e, apesar de estarmos atrasados, aqui está a opinião do About Pop sobre o disco!

Corre, Corre Erê – Abrindo o álbum somos apresentados a seu terceiro single, “Corre, Corre Erê”, cuja letra é bem característica da rapper curitibana, girando em torno da felicidade e da liberdade. A canção demonstra bem o fascínio de Karol pela cultura africana, seja nas referências à religião, como no próprio nome, ou nos contagiantes batuques de afrobeat. Nota: 8.0/10

Gueto Ao LuxoDeixa que a nêga vai! A batucada continua, mas agora mais animada, fazendo “Gueto Ao Luxo” soar como uma incrível mistura de hip-hop e axé. Sobre uma batida energética, de longe um dos melhores instrumentais do álbum, Karol rima sobre suas origens e diz que nunca esqueceu o que já viveu, bebendo champanhe em uma cobertura, mas também tomando sol na laje. Tudo nesta faixa é impecável, a letra, o refrão, o instrumental, absolutamente tudo, tornando-a uma das melhores músicas do disco. Nota: 10/10

Vô Lá – Menos eletrônica e mais fluida que a anterior, “Vô Lá” é uma canção extremamente gostosa de se ouvir, trazendo um instrumental hip-hop/trap com samples de um repente alagoano (Um gênero musical que faz parte da tradição folclórica nordestina), inclusive com uma – genial – parte dedicada à “participação especial” lá no final e uma letra que fala sobre correr atrás para conseguir o que quer. Toda a homenagem ao nordeste, o hip-hop delicioso no instrumental e o estilo cheio de atitude com o qual Karol rima são tão incríveis que é impossível não citar “Vô Lá” como um dos destaques do álbum. Nota: 9.5/10

Gandaia – Desligando a mente um pouquinho, chegamos à “Gandaia”, uma música para ir pra buatchy e se divertir a noite toda sem ligar para mais nada. Como a proposta da canção já deixa claro, a letra não é um destaque, mas é realmente impossível ficar parado com as flautas contagiantes misturadas à batida acelerada desse hino das pistas. Hoje o meu nome é gandaia! Nota: 8.5/10

Você Não Vai – Aqui Karol tem um hater que a subestima, mas ela não está nem aí e mostra pra ele que é uma mulher forte e não vai se permitir ser influenciada por uma pessoa tão inferior, que não pode ir para os lugares onde ela vai (Não pode andar com ela no recreio). O ritmo é tão gostoso quanto o de “Vô Lá” e o instrumental é construído com vários sons excêntricos que funcionam muito bem. A senhora tombou mesmo hein? Nota: 8.0/10

Bate A Poeira – A sexta canção da tracklist traz o tema da religiosidade, tolerância e igualdade, além de um refrão bem pop, mas, apesar da força do tema, não consegue se destacar no meio das outras. Ainda assim tem uma bela letra, deixando mais evidente o lado politizado das composições da rapper. Nota: 5.5/10

Sandália – Um dos maiores pontos altos do disco se encontra logo após a maior decepção. “Sandália” traz de volta os batuques africanos, mas agora misturados a um instrumental de reggae e ragga e instrumentos de sopro. É uma das músicas mais grandiosas do trabalho, com uma letra libertadora e alegre (“Deixa ela, deixa, ser livre, seguir sem importar/Se quiser ir pra qualquer lugar que vá, não tem asas mas pode voar”). A participação de Rincón Sapiência é bem vinda e só contribui para tornar “Sandália” uma canção ainda mais extraordinária. Nota: 10/10

Mundo Loco – Deixando o ragga de lado, “Mundo Loco” traz de volta o hip-hop, agora envolto em uma aura de dubstep. Na oitava faixa do seu disco de estreia, Karol descreve um lugar onírico onde o céu é roxo, a grama é azul, os pássaros cantam Erykah Badu e as pessoas não são diferentes. Ouvindo essa canção, tudo o que queremos fazer é se juntar à rapper para deitar e brisar. Hipnotizante. Nota: 9.0/10

Que Delícia – Totalmente diferente de tudo o que já foi mostrado no disco, tanto em letra como em sonoridade, “Que Delícia” é sensual e romântica e traz um instrumental relaxante com batidas meio caribenhas, mas acaba quebrando o clima maravilhoso imposto pelas outras canções, se juntando a “Bate A Poeira” na lista de faixas que eu pularia. Nota: 5.0/10

Olhe-se – Tchau batuques ou fortes influências regionais, “Olhe-se”, parceria com o rapper Tuty, é um maravilhoso trap/hip-hop energético bem aos moldes do mercado americano e poderia soar como o trabalho de Nicki Minaj (Até lembra levemente o hino “I’m Legit”, com a Ciara) se não fosse pela letra. Isso não é nada ruim e a única coisa no mínimo esquisita é que a música parece mais uma parceria de Tuty com Karol Conka e não o contrário. Bem, isso não é problema quando o rapper brasileiro é tão competente quanto ela, né? Nota: 9.0/10

Boa Noite – A grande canção da carreira de Karol, responsável por dar reconhecimento ao nome da curitibana, aparece no final do disco, sendo a última música original. Com samples de “Boa Noite”, do duo Tropkillaz, Karol vem com uma música energética, marcante e evidentemente brasileira, pois, assim como “Vô Lá”, conta com a influência da música nordestina. Hino incontestável e um dos destaques com certeza. Nota: 10/10

Caxambu – A batucada de “Caxambu”, regravação do samba raiz de Almir Guineto, é responsável por fechar o disco – com chave de ouro, diga-se de passagem. Karol adapta a música ao seu estilo urbano, com batidas pesadas de hip-hop, batuques e palmas (Sobra espaço até para uma introdução de funk carioca) e a transforma em algo que poderia facilmente se passar como uma canção original sua. Nota: 8.0/10

Resumo geral: Com seu álbum de estreia, Karol Conka se mostrou como uma forte aposta para representar o rap feminino no Brasil, contendo também o fator pop em suas músicas (O que acabou ficando evidente em “Tombei”, seu novo single) e influências da cultura brasileira e africana. “Batuk Freak” é um dos discos mais brasileiros de todos os tempos, soando como uma mistura cultural deliciosa. Se algum gringo deseja conhecer a cultura musical do Brasil, é só escutar este álbum, está quase tudo aqui. Não só os instrumentos e samples mostram as várias faces do Brasil, mas também as letras, onde Karol fala sobre ricos, pobres, negros ou brancos tratando todos como iguais e retrata essa “mistura” de etnias e culturas que o Brasil possui.

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2 comentários:

  1. Bate A Poeira não é a pior, a pior é Caxambu. Todas as músicas mereciam clipe e são perfeitas

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  2. Bate A Poeira não é a pior, a pior é Caxambu. Todas as músicas mereciam clipe e são perfeitas

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