Lembro-me de quando conheci Lorde, algum tempo
antes de ela explodir para o mundo. Seu EP de estreia, “The Love Club”, me
fisgou na primeira ouvida e eu fiquei viciado nas músicas por semanas. O tempo
passou e quando eu vi que ela havia estourado com seu single “Royals” fiquei
extremamente surpreso, acreditando que sua carreira iria alavancar e ela
lançaria mais músicas rapidamente, o que realmente aconteceu. Lorde anunciou
seu disco de estreia e eu esperei ansioso por cada momento. O álbum foi lançado
em 2013, trazendo 11 novas músicas e mais 5 do EP na versão extendida. Vem ver
nossa opinião sobre ele!
Tennis
Court – Ao começar o “Pure Heroine”, somos agraciados com uma das melhores
canções da breve carreira de Lorde. Aqui ela faz uma crítica às pessoas (“Você não acha chato o jeito como as pessoas
falam?”) e te convida para fazer parte do grupo dela, onde eles batem papo
e são felizes sozinhos mostrando à todas essas pessoas o quão pouco ligam para
tudo. A letra é crítica como a maioria das composições da neozelandesa e é bem
colocada sobre um instrumental sintetizado com influências do hip-hop. “Tennis
Court” ainda tem um dos melhores refrões, não apenas liricamente como também em
questão de sonoridade, com destaque para os “yeah” que ela repete ao longo dele
com uma voz grave. Nota: 10/10
400 Lux
– Anunciada por um som que lembra uma sirene, “400 Lux” começa logo apresenta
mais batidas influenciadas pelo hip-hop, mas aqui elas vêm de uma forma mais
pesada e obscura. Na segunda faixa do disco, Lorde fala sobre o bairro onde
cresceu na Nova Zelândia e como lá não nunca tem nada para fazer, por isso ela
procura alguém com quem possa matar o tempo. Nota: 9.5/10
Royals
– O single que elevou Lorde até o patamar onde ela está hoje aparece logo no
início do disco. O instrumental conta com batidas minimalistas envolvendo sons
de estalos de dedo, mas não é esse o seu brilho, e sim a composição lírica. “Royals”
carrega uma das melhores letras do trabalho, em que ela e as pessoas do seu
círculo (Talvez o grupo apresentado em “Tennis Court”?) não acreditam que um
dia possam ser da realeza, ficando satisfeitos apenas em sonhar. Ironicamente,
Lorde tornou-se alguém da realeza da música justamente por causa desta canção. Nota: 8.5/10
Ribs –
Cheia de sintetizadores e uma tímida batida de electro-pop, “Ribs” tem uma
longa introdução com um ar de mistério, mas logo ouvimos Lorde falar sobre seu
medo de crescer e ter responsabilidades (“It
drives you crazy, getting old”), sentindo saudades de sua infância e
pedindo para ter aquela mente novamente. Nota:
8.5/10
Buzzcut
Season – Definitivamente um dos maiores pontos altos do disco, “Buzzcut
Season” tem uma letra genialmente cheia de metáforas, onde ela relata que vive
em um mundo belo e perfeito – em um holograma –, onde tudo está bem, e não quer
voltar para a realidade. O instrumental ajuda a dar o clima onírico dá canção,
com um clima alegre e leves batidas dream pop. É uma canção arrebatadora, que
faz nos sentirmos como se estivéssemos neste mundo dos sonho com ela. Nota: 10/10
Team –
O clima alegre de “Buzzcut Season” é engolido pela obscuridade de “Team”, terceiro
single do disco. Logo no início, sem instrumental algum, Lorde faz um tipo de
ritual de iniciação para o resto da faixa sombria. Depois da repetição dos
versos “send the call out”, somos atingidos com força pelas batidas rápidas e
pesadas da canção. “Team” é extremamente melancólica, onde a cantora nos diz
que vive em um lugar feio, que nunca veremos na TV, que fica sobre os restos
dos seus sonhos destruídos. Mas ela não está sozinha. Lorde deixa claro que a
decepção chegará para todo mundo, mas para alguns – os que vivem naquela cidade
feia – chegou mais cedo (“Todo mundo está
competindo por um amor que não irão receber”). Nota: 9.5/10
Glory And
Gore – Indo mais fundo no túnel escuro que se iniciou em “Team”, “Glory And
Gore” soa ainda mais obscura, quase como um filme de terror em uma música. O
hip-hop se mostra ainda mais presente aqui e o tema retratado pela poética
letra é a violência e como ela se dá por tão pouco ultimamente. Lorde trata a
vida como uma guerra, onde a glória vem junto com o sangue. Nota: 9.5/10
Still Sane
– A melancolia e obscuridade continua a permear o álbum, mas agora a cantora
traz uma letra que descreve seus sentimentos relacionados à fama repentina que
ela conseguiu. Ela diz que está no começo, mas já está chegando até a coroa.
Mesmo assim, ainda é a mesma pessoa de sempre e continua sã, mostrando que a
fama ainda não subiu à sua cabeça, pois ela ainda não pegou o jeito (Not in the swing of things yet). Nota: 8.5/10
White Teeth
Teens – Finalmente podemos ver uma luz no fim do túnel escuro e, depois de
três faixas sombrias, o álbum volta a ganhar a áurea alegre de “Buzzcut
Season”, mas não o mesmo conteúdo lírico. Como em “Royals” e “Tennis Court”, aqui
Lorde volta a criticar a futilidade das pessoas – Retratadas nessa canção como
adolescentes de dentes brancos – e como alguns grupos se acham melhores que
outros. O modo como ela canta e o clima animado da música, que sai um pouco das
influências urban e hip-hop e parte para um indie-pop levado para o blues, dão
a impressão de que Lorde está atrás de uma janela apenas zombando
dessas pessoas. Nota: 9.0/10
A World
Alone – Fechando com chave de ouro a versão normal do disco, Lorde nos
apresenta “A World Alone”, a faixa mais longa do álbum e com certeza uma das
melhores. A guitarra melódica e o instrumental trip-hop da faixa, somados aos
“Uuuuh” que ela canta ao longo da canção dão um ar incrível de liberdade e
satisfação. Dá vontade de pegar um carro conversível e viajar por uma estrada
longa e deserta ouvindo isso aqui, sem ligar para nada e com um grande sorriso
no rosto. Aliás, a letra fala justamente sobre isso, “não ligar para nada”.
Lorde já cansou de criticar as pessoas, agora ela quer é que elas se explodam,
não dando a mínima para o que falam, e isso fica claro em muitos pontos ao
longo da faixa, que termina com um “deixe-as falar”. “A World Alone” é uma
música para se sentir bem. Nota: 10/10
No Better
– Abrindo a versão estendida (No caso, deluxe) do álbum, temos uma produção do
Diplo. O hip-hop que é base para a maioria das faixas do álbum aqui é turbinado
com elementos de trap music característicos do produtor, mas a letra continua
um ponto forte. “No Better” é alegre e sombria ao mesmo tempo. Lorde relata
seus dias de verão, onde ela curtia ao lado de seu amado e os dois se
divertiam, mas de acordo com ela, os dias passaram a ficar mais frios e os dois
não são mais como antigamente (And you’re
no better at swimming than you were in the beginning), por isso ela
recomenda que ele viva sua vida e se divirta, porque mais tarde aquilo vai
derrubá-lo. Nota: 9.0/10
Bravado
– Assim como o smash hit “Royals”, “Bravado” já era conhecida pelo EP “The Love
Club” e é bom saber que, mesmo depois de Lorde lançar um álbum, esta continuar
sendo a melhor faixa da carreira dela (Ao lado de “Tennis Court”). “Bravado” é
obscura, pesada e grandiosa, muito grandiosa, até em sua letra (Eu fui criada para ser admirada e notada)
utilizando batidas rápidas, tímidos sintetizadores e um poderoso coral ao
fundo. Os “Ooh ooh” que ela entoa junto ao coral são extremamente arrebatadores
e a melhor parte da grande canção com certeza. Merecia ser lançada como single
muito mais do que “Royals”, que desperdício. Nota: 10/10
Million
Dollar Bills – A já conhecida de longa data “Million Dollar Bills” é o
ápice da animação do disco. O início da canção já nos apresenta uma melodia
extremamente cativante, mas é só esperar poucos segundos depois para ficar
maravilhado com as batidas influenciadas pelo dancehall, com tambores e uma pegada um pouco tribal. A letra é uma
das mais simples da cantora, e a música, infelizmente, é muito curta, mas é
suficiente para a adicionarmos na playlist de canções para dançar, que com
certeza não deve possuir muitas faixas da Lorde. Nota: 9.5/10
The Love
Club – A faixa-título do EP de Lorde é uma música curiosa. Com uma carga de
ironia (Reforçada pelo instrumental alegre), ela nos conta que entrou no clube
que dá nome à canção, mas não o descreve como um lugar bom. Se sente presa lá e
quer sair, mas no refrão nos convida a participar, dizendo que tudo vai brilhar
para nós (A parte em que a ironia aparece). É como se ela relatasse sua vida
escolar, em que ela era uma garota que não se encaixava em nenhum grupo e por
isso tentou entrar em um (O Clube do Amor), o que não deu certo, já que ela se
sentia como uma estranha. “The Love Club” é, simplesmente, uma faixa sobre
adolescência. Nota: 8.5/10
Biting Down
– Talvez a música mais profunda e enigmática da carreira de Lorde, “Biting
Down” é obscura e possui batidas um pouco descompassadas, mas o que chama
realmente a atenção é sua letra. Ao longo de um pouco mais de três minutos, ela
fala algumas frases aparentemente sem sentido, enquanto também fica repetindo o
verso “it feels better biting down” (Isso parece melhor mordendo). A própria
Lorde disse, em uma entrevista, que ninguém sabe realmente o que ela quis dizer
com a letra desta canção, mas a cantora explicou dizendo que é sobre pequenos
momentos de intensidade que te ajudam a compreender algo maior. É praticamente a
versão musical de “Donnie Darko”. Nota:
9.0/10
Swingin
Party – Retomando o minimalismo de “Ribs” (Inclusive, em questão de
sonoridade, tudo aqui é bem parecido com a quarta faixa do disco), “Swingin
Party” dá espaço para a voz de Lorde brilhar, e realmente, a performance vocal
dela está impecável aqui. Vale ressaltar que a canção é, na verdade, um cover
da banda The Replacements. Uma ótima forma de se despedir do disco. Nota: 7.5/10
Resumo
geral: Com seu magnífico álbum de estreia, Lorde expande seus horizontes e
mostra o quão enorme é o seu talento não apenas com a voz, mas também compondo
(Talvez um dos motivos seja o fato de que ela é filha de uma poetisa). “Pure
Heroine”, assim como também fez o EP “The Love Club”, nos apresentou uma garota
com atitude e opinião própria que ainda tem muito a oferecer. O álbum possui
letras maduras, sonoridade peculiar e uma atmosfera envolvente, costurados
perfeitamente sem que haja uma canção sequer deslocada da proposta do álbum.
Tudo beira a perfeição. A neozelandesa nos entregou uma obra-prima maravilhosa,
um álbum que deve ficar marcado por muito tempo como um dos grandes discos da
década. Lorde é um sopro de originalidade na música atual. Diferente, talentosa
e com uma maturidade impressionante para alguém de 18 anos, ela nos mostra que
ainda tem muito a oferecer. Ela já anunciou que está trabalhando em seu segundo
álbum de estúdio e nós não poderíamos estar mais ansiosos.
Olá! Estou admirado com a forma que consegue decifrar as letras das canções e tirar conclusões sobre elas. Meus parabéns! Qual o segredo pra fazer isso tão bem?
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