Desde os tempos de The Voice, Melanie Martinez
chamou a atenção do público, tanto por seu visual excêntrico, quanto pela sua
voz magnífica. O cover de “Toxic”, da Britney Spears, criou muitos fãs para a
garota de apenas 17 anos na época. Pois bem, quando terminou o programa em
sexto lugar, foi um tremendo choque, já que Melanie tinha potencial para ir
mais longe, mas sempre esteve evidente que poderíamos esperar algo grande dela.
Esse “algo grande” acaba de chegar com o nome de “Cry Baby”, seu disco de
estreia. Veja nossa resenha!
Cry Baby
Eduardo: Abrindo
o disco temos sua faixa título, responsável por apresentar esta complexa
personagem criada por Melanie de um modo tão genial. Aqui descobrimos que a
garota, que mais se assemelha a uma criança mimada, tem um “coração maior que o
corpo“ e é muito emotiva, por isso é solitária e perdeu todos os seus amigos.
Todos a veem chorar, mas ela não liga para o que pensam ou dizem, se fechando
no seu mundo psicodélico detalhado no resto das canções. Nota: 8.0/10
Macio: A música de abertura do álbum talvez seja uma das composições mais pessoais da própria Melanie. “Cry Baby” não tem a ver com conto de fadas, é uma explanação sobre o apelido no qual ela foi rotulada toda a sua vida por ser muito sensível e “usar o coração no lugar do cérebro”, daí o título do álbum, nomeado com o alter ego da artista. Além de a letra ser belíssima, a música é carregada de emoção e algo parecido com desespero, é como se ela cantasse repetitivamente “Eles te chamam de bebê chorão e você não liga” numa tentativa de reafirmar isso para si própria. É uma canção intensa e muito me agrada o carro-chefe do tiroteio que está por vir. Nota: 8.0/10
Dollhouse
Eduardo: A faixa que começou tudo vem logo em seguida. Agora somos apresentados à
história de Cry Baby e sua família conturbada. Em um instrumental que mistura
as influências urban com reggae e o som de brinquedos infantis já
característicos das produções de Melanie, a cantora entoa os versos da canção
de uma forma doce e simpática, contrastando com a letra obscura que detalha sua
família. O pai trai a mãe e o filho está no mundo das drogas, mas eles precisam
parecer a família perfeita. Nota: 8.0/10
Macio: A casa das bonecas e eu temos uma longa história de amor, logo é a minha velha conhecida do álbum. Todo o conceito em torno da provável música mais famosa da Melanie é ousado e foi executado da melhor forma, contar a história de uma família desestabilizada por problemas como alcoolismo e vício em drogas causaria receio em qualquer artista, mas ela aborda o tema de forma genial relacionando-o com uma "casa de bonecas", que teoricamente seria a casa perfeita. A letra da música é direta, se você lê-la verá que não há nenhuma sutileza sobre o assunto e, além de tudo, a música em si, com um instrumental baseado em sons de bonecas de corda, é excelente, foi meu vício por alguns meses no ano passado. PS. Assistam ao clipe que é tão incrível quanto todo o resto. Nota: 8.0/10
Sippy Cup
Eduardo: Ainda mais obscura que a anterior, até por contar com o selo de letra
explícita (com palavrões), “Sippy Cup” funciona como uma continuação para
“Dollhouse”, principalmente no clipe meio macabro lançado há algumas semanas.
Aprofundando ainda mais nos problemas da família, Melanie canta sobre drogas,
silicone, anel roubado, traumas e até um assassinato. A faixa consegue ser tão
boa – um pouco melhor, na verdade – quanto “Dollhouse” também por seu
instrumental excêntrico, de batidas cruas e rápidas. Nota: 9.0/10
Macio: É, meus queridos, a infância da Cry Baby não foi nada fácil. Em "Sippy Cup", continuação da saga iniciada em Dollhouse, a mãe alcoólatra e traída da canção mata o marido, sua amante e envenena a própria filha num “copo de canudinho”. O instrumental usado nela é todo numa vibe aquática (Quase uma Alice Caymmi americana, né non?) e "copos de canudinho" derramando água (ou seria veneno?) fazem parte da sonografia da música. É uma delícia ouvir. E eu estou digitando com os pés e batendo palmas para essa habilidade da Melanie de criar músicas e letras de músicas que, além de estarem sempre interligadas entre si, tratam assuntos "sérios" de forma genial. Apesar de eu achar a letra de Dollhouse um pouco mais forte (mas ambas as letras são maravilhosas), gosto mais de ouvir "Sippy Cup" (Não me mate, "Dollhouse”, você mora no meu coração). PS: Assistam ao clipe que é tão incrível quanto todo o resto². Nota: 9.5/10
Carousel
Eduardo: Saindo dos problemas familiares, conhecemos agora o primeiro amor de Cry Baby
na faixa “Carousel”. O instrumental com sons de xilofone e sanfonas dá um toque
de fantasia e psicodelia que a faixa precisa. No entanto, como nem tudo são
flores, Melanie conta que a sensação de estar apaixonada por tal garoto é como
estar presa em um carrossel que gira para sempre (Há um cavalo à sua frente,
mas ela nunca consegue alcançá-lo), pois os sentimentos não são correspondidos
por ele. Nota: 9.0/10
Macio: A música sobre o primeiro amor da Cry Baby não poderia receber uma metáfora melhor em sua letra: Um cavalinho de parque de diversões. Calma, eu explico. Imagina que você, num carrossel, sentou no cavalo de trás e seu crush mor está no cavalo da frente, logo você nunca poderá alcança-lo porque o carrossel roda num círculo interminável. Gênia. Se você, assim como eu, já teve/tem paixão platônica por alguém, entende. Se não, prepare-se, seu dia chegará. E sobre a música, Melanie criou uma atmosfera bastante obscura que representa muito bem o lado negro de se apaixonar platonicamente. Apoiada por uma sanfona e um xilofone, “Carrossel” beira o misticismo de tão boa que é. PS: Assistam ao clipe que é tão incrível quanto todo o resto³. Nota: 8.5/10
Alphabet Boy
Eduardo: A canção mais genial e maravilhosa do disco é justamente a break up song. Há muitos pontos para se
elogiar “Alphabet Boy”, o primeiro deles é o ritmo da canção. Sonoramente, a
canção é construída com um contraste interessante, do lado fofo temos os sons
de brinquedo e os “A-B-B-Buah”, enquanto que para compensar, o instrumental de
hip-hop e a letra provocante compõem a parte mais obscura. O segundo ponto a
ressaltar é que Cry Baby amadureceu, jogando na cara do ex-namoradinho que é
mais inteligente do que ele. O terceiro e mais genial de todos é a letra. Para
mostrar suas habilidades sobre-humanas com composições líricas, Melanie usa um
método maravilhoso: Aliteração. Não é algo que
chama muito atenção, mas quando se percebe é de ficar maravilhado. Onde esse
efeito se encontra? Durante quase toda a atenção. É possível perceber que nos
primeiros versos das estrofes, a maioria das palavras começa com a letra A (“You're always aiming paper airplanes at me
when you're around”), nos segundos a letra em destaque é a B (“You build me up like building blocks just
so you can bring me down”), nos terceiros é C (“You can crush my candy cane but you'll never catch me cry”) e nos
quartos é a letra D (“If you
dangle that diploma and I dead you don't be surprised”). Melanie é um
gênio e “Alphabet Boy” é sua a melhor canção até agora! Nota: 10/10
Macio: Sabe aquele seu namorado/ficante que se acha mais inteligente que você? Escreve a letra de “Alphabet Boy” numa cartinha e manda pra ele junto com um “Está tudo acabado entre nós”. Escrevendo uma aliteração com o ABCD do alfabeto (Olha a criatividade da moça), Melanie criou uma letra maravilhosa destinada ao namorado que se achava a última bolacha do pacote. “Alphabet Boy” prova que você não precisa de um diploma para fazer lindas composições, meu caro! Nota: 8.0/10
Soap
Eduardo: É
de se esperar que a música depois da melhor do álbum seja ofuscada, não é
mesmo? Provavelmente isso realmente aconteceria, se esta canção não fosse “Soap”. Não tão
genial liricamente, mas ainda assim com uma das letras mais incríveis do disco,
Cry Baby vem falar sobre seu medo e a insegurança de se declarar para um garoto,
usando metáforas sobre um banho. O que mais chama a atenção em “Soap” e a eleva rapidamente ao hall das melhores do álbum é o instrumental. A canção se inicia obscura e
densa, como algo da Lorde, mas depois do refrão somos pegos de surpresa
com um drop de trap music e sons de gotas d’água que o Diplo faria. É uma
experiência para lá de positiva, uma canção única e surpreendente. Nota: 10/10
Macio: Após sambar na cara do garoto alfabeto, Cry Baby está arrependida e tem vontade de lavar a boca com sabão por ter falado demais. “Soap” é uma das mais deliciosas do álbum pelos seguintes motivos: Batida trap com gotas d’águas. Repetindo: Batida trap com gotas d’água. Sim, a genial Melanie transformou o mero som de gotas d’agua caindo numa batida contagiante que tem tudo a ver com a música. Você toma um susto na primeira vez, curte na segunda e da terceira em diante está completamente viciado. Nota: 9.0/10
Training Wheels
Eduardo: “Training
Wheels” é a primeira balada do disco e também a primeira música de amor. Mesmo
que o relacionamento pareça não ser perfeito, o que dá pra perceber em versos
como “I love everything you do, when you
call me fucking dumb for the stupid shit i do”, é o mais próximo do amor
que a garota pode chegar, já que as coisas começam a desandar a partir daqui. Nota: 7.0/10
Macio: Parece que eles voltaram a namorar, e se você achava que Melanie/Cry Baby só podia elaborar músicas obscuras, está muito enganado. Aqui, Cry Baby está apaixonada, vivendo intensamente cada segundo desse novo sentimento e isso fica claro na melodia suave, doce, de deixar os olhos brilhando. Além de claro, a voz da Melanie estar mais amorzinho do que nunca nessa música. É a única de romance de todo o álbum e para ser sincero, “Training Wheels” desempenha um papel tão bom que nem precisaria mais do que isso. Nota: 9.5/10
Pity Party
Eduardo: “Pity Party” está localizada no meio do álbum, contando com as faixas da
edição deluxe, e é o estopim para Cry Baby se tornar louca. Ela resolveu dar
uma festa para comemorar seu aniversário, mas acabou sendo um desastre e ninguém
apareceu. Como já era de esperar, a garota ficou histérica e arrasada. O
instrumental de hip-hop continua presente, desta vez com um refrão que pega
emprestado um sample da faixa “It’s My Party”, de Lesley Gore, também já
sampleada por Icona Pop em “My Party”. Já tenho o tema da próxima festa de aniversário! Nota:
9.0/10
Macio: Está tudo indo muito bem entre eles, nada melhor que dar uma festinha para socializar com o namorado e seus amigos, não é? Pena que ninguém aparece. Risos. Cry Baby e toda criança que teve sua festa flopada têm seus corações quebrados mais uma vez, a letra dessa música é de dar dó, assim como o clipe, e é graças a ela que Cry Baby assume a loucura de uma vez por todas. O que não me agrada tanto em “Pity Party” é que a sonoridade do refrão (bastante pegajoso, diga-se de passagem) parece algo que nós poderíamos ouvir no álbum de alguma diva teen do pop, por isso não me conectei tanto com essa música e pra mim ela é a “menos melhor” do álbum (Porque todas carregam o adjetivo “melhor” no sangue, claro). Nota 7.5/10
Tag, You're It
Eduardo: Partindo para algo mais fantasioso, Cry Baby agora conta que foi
sequestrada por um “lobo”, com direito até a falas do próprio sequestrador, com uma
distorção na voz de Melanie. Apesar do tema obscuro da canção, “Tag You’re It”
é uma das mais pop do álbum, com um refrão incrível que não deve sair da cabeça do ouvinte tão cedo. Nota: 8.0/10
Macio: Cry Baby ficou louca e começou a imaginar historinhas de contos de fadas, aqui ela é raptada por um lobo (Metáfora para algum namorado? Ou o lobo seria o próprio “amor”?) e é cantada num contraste de voz normal e de uma voz com efeito grave representando o lobo. Estava tudo bem até eu descobrir que a música fala sobre pedofilia, o lobo é o pedófilo e Cry Baby é a criança. Tudo isso baseado no conto infantil da chapeuzinho vermelho, adaptado na mente genial da Melanie. E a letra da música combina perfeitamente com pedofilia mesmo. Um minuto de silêncio para a genialidade dessa garota. *silêncio*. E o que deixa a música ainda mais perfeita é a forma desesperada na qual Melanie a canta perto do final, enquanto é sustentada por uma sobreposição de vozes. Sem falar no começo dos versos “Can anybody hear me?” e os “Eenie meenie miny mo” que me causam orgasmos auditivos, só isso tenho isso a dizer. Queria brincar de Eenie meenie miny mo com a Melanie no recreio. Nota: 10/10
Milk And Cookies
Eduardo: Seguindo com a história fantasiosa do lobo, Melanie finalmente o
mata com biscoitos envenenados. Assim como a faixa anterior, “Milk And Cookies”
traz um clima bem entorpecente e por vezes “mágico”, como um filme de fantasia
e terror. Para reforçar essa ideia docemente macabra, a faixa possui versos que
servem como uma referência à famosa música de Freddy Krueger e um pós-refrão viciante. Nota: 9.0/10
Macio: Se chapeuzinho vermelho é burra o suficiente para se deixar enganar pelo lobo, Cry Baby é esperta e o envenena com leite e biscoitos. Como um fã de filmes não foi difícil notar a cantiga de “A Hora do Pesadelo” desde os primeiros versos da música. Melanie encarna Freddy Krueger e vai pegar o lobo enquanto conta de 1 a 12. Mais uma música que eu amo e aguardo um clipe maravilhoso. “Milk and Cookies” acaba e eu só consigo cantarolar “Lará Lalará Larará” e repeti-la em seguida. Rest In Peace, pedófilo. Nota: 9.0/10
Pacify Her
Eduardo: Começando a deixar bem evidentes os traços da sua psicopatia, “Pacify Her” é uma das
canções interessantes e maravilhosas. Cry Baby está envolvida com um homem
comprometido e se mostra obsessiva ao pedir que ele fique com ela largando sua
mulher, que, inclusive, sabe da traição e está “dando nos nervos” da Baby. O refrão poderoso é um dos destaques aqui, além do instrumental de
R&B e trap que dá o toque final no que é um dos pontos altos do “Cry Baby”.
Nota: 10/10
Macio: Cry Baby, louca desde “Pity Party”, agora vira uma destruidora de lares. Em “Pacify Her” ela chega ao ápice da loucura, está possessiva, está violenta e decidida a conseguir o que quer, no caso, o boy (rs). Eu tenho uma interpretação muito pessoal dela, Melanie disse que é a Cry Baby acabando com relacionamentos mesmo, mas por que não imaginá-la pedindo calma a si mesma? Essa canção e eu temos um relacionamento muito conturbado e intenso, fala muito sobre mim e... “Não sei o que falar, só sentir” sobre esse hino da Harpa Cristã. Nota: 10/10
Mrs. Potato Head
Eduardo: Mais R&B do que a faixa anterior, “Mrs. Potato Head” traz uma
Cry Baby mais controlada. Aqui ela não se sente bem com sua aparência e
questiona se um novo rosto a faria se sentir melhor. “Por que está fazendo isso
se você é bonita sem?” é a frase, dita pela própria Melanie, em uma entrevista,
que pode resumir a síntese da canção. Nota:
7.0/10
Macio: Chegamos ao que eu acho uma das letras mais brilhantes da Melanie. Aqui, Cry Baby questiona a necessidade das pessoas em mudarem seus rostos fazendo cirurgias plásticas comparando-as com o Senhor Cabeça de Batata (Aquele de Toy Story mesmo). A letra é uma obra de arte em si e nos faz questionar a sociedade que tanto nos cobra aparência e acaba esquecendo o nosso interior [Momento de reflexão]. A música é uma das mais suaves do álbum e não deixa de ser ótima, mas não se destaca tanto quanto a letra. Nota: 8.0/10
Mad Hatter
Eduardo: Com chave de ouro, o disco se encerra com a frenética “Mad Hatter”. Aqui, Cry Baby
vem para confirmar sua loucura e dizer para todo mundo que sim, ela é totalmente
insana. Essa insanidade toda está presente não só nos versos que ela entoa
nervosamente, mas também no instrumental hip-hop de batidas rápidas e pesadas.
É a favorita da maioria dos fãs e minha aposta como próximo single. Nota: 9.5/10
Macio: Aqui a Cry Baby mostra seu lado rapper-dark-psicodelica para fechar o álbum com chave de ouro, Mad Hatter é magnífica em vários sentidos (Qual música desse álbum não é?), desde a letra que é praticamente um "Born This Way" para os emos e góticos. Exaltando a loucura que todos nós carregamos dentro de nós em versos cantados velozmente, "Mad Hatter" é uma música tão incrível que tudo o que eu peço é um clipe dela com Melanie num hospital psiquiátrico vestida com uma camisa de força fiel ao estilo dela (provavelmente seria colorida e cheia de lacinhos) e cuspindo "Você pode ser Alice e eu serei o chapeleiro maluco, todas as melhores pessoas são loucas" em nossos ouvidos enquanto esbanja um sorriso maléfico. (Sempre achei o chapeleiro maluco um personagem anos-luz mais interessante que a Alice MUAHAHAHAHA). Nota: 10/10
Resumo
geral: As expectativas foram superadas, com o “Cry Baby”, Melanie se
mostrou mais do que uma jovem cantora com uma bela voz no mercado, ela se
mostrou um gênio! A mistura do estilo urban nos instrumentais de hip-hop com o
visual e as influências do mundo infantil dão um contraste muito interessante à
obra, que não tem absolutamente nenhum deslize. O conceito do álbum é, com
certeza, o maior destaque. Conduzindo a obra majestosamente, Melanie cria uma personagem
e desenvolve sua história macabra ao longo da tracklist, com letras (Escritas
pela própria) que passeiam pela linha tênue entre doçura e obscuridade.
Não resta nenhuma dúvida, “Cry Baby” é o melhor
disco do ano até agora, e será difícil superar toda a sua genialidade.