Ano: 2013 / Páginas: 280
Idioma: portuguêsEditora: Galera Record
Talvez um dos maiores problemas que nós, leitores,
vivenciamos com nossas experiências, seja a tal da decepção por esperar mais de
um livro. E esse foi o meu caso com “Todo Dia”, do David Levithan. Ok, eu
estava a fim de lê-lo há quase dois anos, tinha visto-o numa livraria e
automaticamente me encantado com a capa e com o que li nela, mas acabei não o
comprando. E o tempo passou, passou e passou, até que só consegui encontrá-lo
em edição econômica e não pensei duas vezes, levei na hora.
Não que o livro seja ruim, mas ao longo da leitura eu fui me
deparando com várias partes que me incomodaram bastante, e só cheguei ao final quase
que por obrigação.
O livro vai nos contar a história de “A”, uma pessoa – ele
afirma não ser homem nem mulher, é apenas “alguém”, mas os insistentes artigos
masculinos me fizeram levar a leitura tendo em vista um “ele”- que todo dia
acorda num corpo diferente. Essa é uma
ideia genial? Sim, o tipo de fórmula para uma história que você olha e pensa: “Como
eu nunca pensei nisso antes?”, e funciona? Muito.
“A” vive o inesperado a cada amanhecer, ele se acostumou às
mudanças e a não se apegar a nenhuma família/amigo/ser humano, sua vida é
incompleta e um tanto vazia até ele acordar no corpo de Justin e se apaixonar
por sua namorada, Rhiannon.
Ambos viviam um namoro um tanto abusivo pelo lado dele, e em
partes por conveniência, já que não havia muita intimidade e “amor”, no real
sentido desse substantivo. Mas por alguma razão desconhecida, “A” se apaixona
perdidamente por Rhiannon e eles passam o dia numa praia e vivendo aquela
clássica imagem saída de qualquer livro do Nicholas Sparks. PS. Justin nunca
faria isso com ela.
E a partir disso, o protagonista põe na cabeça que
independente do corpo que acorde, ele precisa
ir até atrás da Rhiannon. Ele está loucamente apaixonado e vai fazer de tudo
para ter e manter contato com ela, não importa em que corpo acorde, não importa
o quanto ele atrapalhe as vidas na qual ele se encontra, não importa a que
distância ele esteja, ele, literalmente, a qualquer custo, em qualquer ocasião,
precisa ver Rhiannon. E isso me
incomodou muito.
Antes que os amantes da obra me taquem pedras, ela é
excelente em muitos sentidos. A começar pela diversidade de personagens que
David aborda, seria muito fácil o autor nos enfiar goela abaixo um homem branco
cis heterossexual de classe média todo santo dia, contudo ele teve a empatia,
cuidado e dimensão de nos brindar com toda a diversidade humana. “A” já foi
homem e mulher, branco e negro, latino e asiático, cisgênero e transgênero,
heterossexual e homossexual, gordo e magro, etcetera e etcetera e etcetera.
E ele merece todo o
aplauso por isso.
O livro também nos faz valorizar as pessoas à nossa volta,
porque nele vemos um ser solitário que anseia por ter uma zona de conforto –
aqueles mesmos familiares, aqueles mesmos amigos, aquela mesma rotina – tal convívio
que nós muitas vezes reclamamos. Além disso, há toda uma questão de amar o ser
e o não o que ele aparenta, pois um indivíduo carrega muito mais do que sua
aparência física e formação biológica, ele é abrangente demais para se limitar
a isso, eu peguei essa mensagem no livro: visar ao interior.
Talvez se ele focasse menos no romance e mais no que eu
citei acima, eu o teria adorado, porém chegou uma hora que eu cansei de como o “A”
atrapalhava a vida das pessoas que ele “possuía” sem o mínimo respeito e
cuidado, tudo isso em nome do “amor”, inclusive o livro chega até querer forçar
o Nathan, que foi um dos corpos que “A” habitou e o prejudicou deixando-a
largado num carro no meio da estrada, como o vilão da história, e depois disso
o próprio “A” ignorou as tentativas de contato do Nathan. Eu li aquilo e...
Não, só não.
Para completar, Rhiannon foi gordofóbica com um dos corpos
que “A” habitou e ele compactuou com isso dizendo algo do tipo “É, eu realmente
não quero que ela me veja desse jeito”.
Desse jeito. DESSE. JEITO.
Eu e esse livro tivemos muitos “talvezes”, talvez eu o tenha
lido com um olhar muito crítico e menos como um adolescente de dezessete anos,
talvez eu esteja numa época em que qualquer romance teen feat. mimimi me dê
sono, talvez se eu relê-lo daqui a um tempo minha experiência seja outra,
talvez... Porque, por enquanto, “Todo Dia” deixou a desejar.
Este comentário foi removido pelo autor.
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