quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

CRÍTICA: Todo Dia de David Levithan


Ano: 2013 / Páginas: 280
Idioma: português
Editora: Galera Record      

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Talvez um dos maiores problemas que nós, leitores, vivenciamos com nossas experiências, seja a tal da decepção por esperar mais de um livro. E esse foi o meu caso com “Todo Dia”, do David Levithan. Ok, eu estava a fim de lê-lo há quase dois anos, tinha visto-o numa livraria e automaticamente me encantado com a capa e com o que li nela, mas acabei não o comprando. E o tempo passou, passou e passou, até que só consegui encontrá-lo em edição econômica e não pensei duas vezes, levei na hora.

Não que o livro seja ruim, mas ao longo da leitura eu fui me deparando com várias partes que me incomodaram bastante, e só cheguei ao final quase que por obrigação.

O livro vai nos contar a história de “A”, uma pessoa – ele afirma não ser homem nem mulher, é apenas “alguém”, mas os insistentes artigos masculinos me fizeram levar a leitura tendo em vista um “ele”- que todo dia acorda num corpo diferente.  Essa é uma ideia genial? Sim, o tipo de fórmula para uma história que você olha e pensa: “Como eu nunca pensei nisso antes?”, e funciona? Muito.

“A” vive o inesperado a cada amanhecer, ele se acostumou às mudanças e a não se apegar a nenhuma família/amigo/ser humano, sua vida é incompleta e um tanto vazia até ele acordar no corpo de Justin e se apaixonar por sua namorada, Rhiannon.

Ambos viviam um namoro um tanto abusivo pelo lado dele, e em partes por conveniência, já que não havia muita intimidade e “amor”, no real sentido desse substantivo. Mas por alguma razão desconhecida, “A” se apaixona perdidamente por Rhiannon e eles passam o dia numa praia e vivendo aquela clássica imagem saída de qualquer livro do Nicholas Sparks. PS. Justin nunca faria isso com ela.

E a partir disso, o protagonista põe na cabeça que independente do corpo que acorde, ele precisa ir até atrás da Rhiannon. Ele está loucamente apaixonado e vai fazer de tudo para ter e manter contato com ela, não importa em que corpo acorde, não importa o quanto ele atrapalhe as vidas na qual ele se encontra, não importa a que distância ele esteja, ele, literalmente, a qualquer custo, em qualquer ocasião, precisa ver Rhiannon. E isso me incomodou muito.

Antes que os amantes da obra me taquem pedras, ela é excelente em muitos sentidos. A começar pela diversidade de personagens que David aborda, seria muito fácil o autor nos enfiar goela abaixo um homem branco cis heterossexual de classe média todo santo dia, contudo ele teve a empatia, cuidado e dimensão de nos brindar com toda a diversidade humana. “A” já foi homem e mulher, branco e negro, latino e asiático, cisgênero e transgênero, heterossexual e homossexual, gordo e magro, etcetera e etcetera e etcetera.

 E ele merece todo o aplauso por isso.

O livro também nos faz valorizar as pessoas à nossa volta, porque nele vemos um ser solitário que anseia por ter uma zona de conforto – aqueles mesmos familiares, aqueles mesmos amigos, aquela mesma rotina – tal convívio que nós muitas vezes reclamamos. Além disso, há toda uma questão de amar o ser e o não o que ele aparenta, pois um indivíduo carrega muito mais do que sua aparência física e formação biológica, ele é abrangente demais para se limitar a isso, eu peguei essa mensagem no livro: visar ao interior.

Talvez se ele focasse menos no romance e mais no que eu citei acima, eu o teria adorado, porém chegou uma hora que eu cansei de como o “A” atrapalhava a vida das pessoas que ele “possuía” sem o mínimo respeito e cuidado, tudo isso em nome do “amor”, inclusive o livro chega até querer forçar o Nathan, que foi um dos corpos que “A” habitou e o prejudicou deixando-a largado num carro no meio da estrada, como o vilão da história, e depois disso o próprio “A” ignorou as tentativas de contato do Nathan. Eu li aquilo e... Não, só não.

Para completar, Rhiannon foi gordofóbica com um dos corpos que “A” habitou e ele compactuou com isso dizendo algo do tipo “É, eu realmente não quero que ela me veja desse jeito”. Desse jeito. DESSE. JEITO.


Eu e esse livro tivemos muitos “talvezes”, talvez eu o tenha lido com um olhar muito crítico e menos como um adolescente de dezessete anos, talvez eu esteja numa época em que qualquer romance teen feat. mimimi me dê sono, talvez se eu relê-lo daqui a um tempo minha experiência seja outra, talvez... Porque, por enquanto, “Todo Dia” deixou a desejar.


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